Lembro que quando eu
era pequena, existia o costume das portas da casa dos meus pais, e as portas
das casas dos vizinhos estarem sempre abertas, e a criançada entrava e saia por
todas as casas sem nenhum constrangimento de parte alguma. Brincávamos na rua
de casa com segurança, porque todos eram mães, pais e irmãos substitutos. Com
certeza, naquela época, existiam pessoas com corações mais abertos!
Entre os vizinhos, havia uma grande amizade,
que não permitia constrangimentos ou restrições de liberdade. Crianças ou
adultos cuidavam-se, respeitavam-se. Tinha sim aquelas que cuidavam dos namoros
dos jovens casais no portão, e é claro, eles não gostavam de se saberem
vigiados por detrás das cortinas, mas mesmo assim amavam e respeitavam as donas
“Fifis”, as fofoqueiras do bairro que
não traziam dano maior que uns bate bocas bem leves. Ah, tinha as advertências
do pomar do seu Xavier, mais isso não vale! Penso agora que essas pequenas
exceções, até auxiliavam, dando certa segurança, se assim posso dizer. Na
verdade sobre as donas “Fifis” nem dá pra comparar, com o batalhão de câmeras
que hoje se instalam por toda a cidade, e ninguém se importa de fazer o que bem
lhes apetece! Na verdade não temos outra solução, precisamos nos proteger!
Precisamos nos proteger da
falta de amor, da falta de respeito, da falta de segurança. Estamos de portas e
corações fechados. O amor agora, é quase nenhum, e ainda por cima, perdemos a
privacidade!
Naquela época nem
sabíamos na verdade, o que era essa coisa de privacidade. Dentro do pacote da velha
e boa vizinhança, continham respeito, amor ao próximo, e outras coisas, que bastavam
para sermos felizes.
Fiquei pensando
nessa coisa do respeito, amor, e portas abertas, quando sem querer percebi que
mesmo em família fechamos as portas dos quartos ou das casas, quando estamos
zangados com quem amamos e por algum tempo, esquecemos as coisas boas que
vivemos, e o que nos uniu. Esquecemos o quanto o outro é importante pra nós.
Não sei se me explico
bem, mas percebo que quando o amor passa por questionamentos, quando a confiança,
nem que seja por uns instantes deixa de existir, quando a boa intimidade não é
mais suportada, impomos então barreiras visuais e barreira na comunicação.
E a desconfiança, a
insegurança, nos faz ficar longe de quem amamos, nos impede de reconhecer a
importância de estarmos juntos, de vivermos em comunhão.
Já que o amor é como o ar que respiramos, se falta esse amor, nossos corações e portas se fecham, e começamos a morrer sufocados por coisas, às vezes tão pequenas!
Já que o amor é como o ar que respiramos, se falta esse amor, nossos corações e portas se fecham, e começamos a morrer sufocados por coisas, às vezes tão pequenas!
Portas fechadas impõem limites e o nosso olhar fica artificial,
desconfiado, malicioso, olhamos por olhos mágicos, câmeras de segurança, e
outras coisas, que nos afastam uns dos outros. Mas triste mesmo, é que existe
entre familiares, esse olhar que desconfia, malicia, esse olhar que é na verdade, de
corações que esqueceram de amar!
Quando o amor vai embora,
a desconfiança se instala, as portas se fecham, almas ficam infelizes.
E aquele passado,
onde crianças corriam felizes por todos os lados, atravessando todas as portas,
debaixo dos olhares cuidadosos de todos, sem desconfianças, sem desrespeitos,
esse passado infelizmente, parece fantasia, uma história muito distante, de nós hoje em dia!
Travas nos separam,
nos tiram a liberdade de ir e vir, em nossa casa, nas ruas, nos bancos, e nos
corações de quem queremos bem.
Dá uma baita saudade
do tempo que passou,
Dá saudade de abrir
portas, e janelas, das casas, e dos corações,
Dá uma tremenda
saudade de ser feliz!
Di Vieira
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