Ângela abriu a porta do carro e saiu.
A sua frente um mar incrivelmente azul
perdia-se no horizonte.
Sentia-se a mais privilegiada das pessoas
por poder contemplar essa paisagem majestosa.
Poucas vezes nos últimos anos tirara um tempo
para ficar só com seus pensamentos e apreciar com calma, esse cenário que Deus
lhe concedera.
Tantos compromissos, tantas questões para
resolver, tanta necessidade de crescer, ganhar dinheiro para garantir um futuro
tranquilo em sua velhice, que esquecera que esse futuro poderia até não
acontecer de fato.
Mas aconteceu! O medo de envelhecer sozinha, de repente
tornara-se um ser monstruoso! Em suas abreviadas orações, no tempo que lhe
restava, e quando conseguia lembrar disso em meio a tantos compromissos, pedia
a Deus que lhe levasse antes do marido.
Era uma oração sincera, quanto a isso não
se pode falar!
Pensava não saber viver sem Osvaldo ao seu
lado! Foram tantos anos juntos,
parceiros em dificuldades e alegrias. Não! Realmente não visualizava um mundo
sem estar ao lado do marido, velho parceiro de estrada, o amor da sua vida!
De repente percebeu a velhice na porta, as
dores nas articulações, as dobras da pele, o corpo perdendo o viço, o cansaço
de saber que apesar de toda a tecnologia o conviver estava cada vez pior, a
comunicação ficara cada vez mais difícil, ninguém se entendia, ou ao menos
tentavam se entender. Cada um querendo ser prioridade, quando a coerência deveria
ter a primazia.
Ali estava Olívia, ela mesma por um bom
período, dispensou seus dias entre papeis, coisas inanimadas, e pessoas quase
sempre inquietas, ansiosas como ela.
Os raios do sol direto na pele, os pingos
de chuva no rosto, só por alguns metros quadrados entre o carro e a marquise
dos prédios, ou pelas janelas do escritório, onde Olívia deixou várias horas de
sua vida.
Não reclamava, não era de reclamar, viveu
como queria!
Só desejava agora, ter tirado mais dos seus
dias pra olhar com calma esse marzão, ter tirado umas horas para rir das piadas
sem noção do Osvaldo. Uns minutos, apenas uns minutos, para olhar em seus olhos
e dizer “Te amo!” o que com certeza já havia dito, e com certeza ele sabia, já
que estavam juntos tanto tempo!
Mas poderia ter dito mais vezes! Poderia
ter deixado tudo de lado, ter ligado pra ele só pra dizer,”Amo você!”
Talvez tenha falado algumas vezes, mas não
com o tempo necessário, não com a intensidade desejada, não com todo o amor
guardado no peito!
Agora a primavera, o verão, e os outonos da
idade já havia passado, agora o inverno chegou, o inverno que é quando o cabelo fica branco tal qual
neve, escasso e delicado assim como a plumagem das aves novas, Ângela percebeu
finalmente a real importância das coisas, que são: Ser grato a Deus por tudo, admirar
belezas naturais como a paisagem que estava ali a sua frente, e as que estavam ao seu redor,
doar seu tempo ao sorriso e abraços oferecidos, retribuir os carinhos, ter compreensão com os que ao largo seguem correndo como ela um dia fez, sem saber o que é bom e realmente
fundamental na vida.
Continuar vivendo, vivendo e dedicando seu tempo às conversas tranquilas e cada vez mais próximas com o Pai Eterno que sabe de todas as coisas, esperando sem medo a conclusão de tudo, o final de um combate real, onde vilões moderados e heróis exagerados, fazem parte de uma mesma alma que busca encontrar a Paz!
Continuar vivendo, vivendo e dedicando seu tempo às conversas tranquilas e cada vez mais próximas com o Pai Eterno que sabe de todas as coisas, esperando sem medo a conclusão de tudo, o final de um combate real, onde vilões moderados e heróis exagerados, fazem parte de uma mesma alma que busca encontrar a Paz!